Tradições culturais da África no Brasil

Durante o período colonial, pode-se dizer que uma grande parte das tradições e culturas africanas foi reprimida e ou teve as suas manifestações controladas. Contudo, muita coisa escapou do controle e do domínio dos colonizadores e foram se misturando as do resto dos povos que coexistiam nas colônias. No Brasil não foi diferente.

A cultura africana tem raízes muito fortes e se manifesta nos diversos campos da sociedade: na religião, na culinária, na musicalidade, nas artes, na dança. Dessa forma, as características dos costumes e da cultura que vieram importados da África podem ser percebidas até hoje nos milhares de afro-descendentes que compõem a sociedade brasileira.

No Brasil, é inegável que as culturas africanas "tiveram grande influência na formação cultural brasileira”^[1] e foram determinantes para a diversidade do país. Existem muitas tradições africanas que são percebidas até hoje. A seguir você poderá conferir algumas delas.

Talvez uma das tradições mais características da cultura africana que foi trazida para o Brasil, a capoeira é uma mistura movimentos de dança e artes marciais. Nos países africanos, ela era usada como luta e seus movimentos eram mais agressivos e, muitas vezes, até fatais. Quando foi trazida para o Brasil, os colonizadores proibiram os africanos de jogarem a capoeira.

Mesmo com as proibições, os escravos continuaram recorrendo à capoeira como forma de expressar a revolta que sentiam diante do tratamento violento que recebiam dos seus senhores. Ela foi sendo adaptada e, hoje, "a capoeira é uma luta dançada, na qual dois antagonistas dão golpes de pernas e cabeça, usando as mãos como apoio, saltando para um lado e outro, mostrando grande habilidade e força física^[2].

Como toda dança, a capoeira utiliza a música como componente fundamental para ditar o ritmo dos movimentos e a embalar os gingados. Uma roda de capoeira típica é composta de 3 berimbaus, dois pandeiros e o som desses instrumentos é acompanhado pelo bater de palmas.

Típico do estado do Pará, o carimbó é um estilo de dança que também encontramos na região nordeste do Brasil. Este nome também é usado para nomear o tambor que é usado para ritmar os passos. Na verdade, essa dança é originalmente de raiz indígena, mas foi se misigenando e recebeu influência principalmente de gingados dos negros africanos. Seus movimentos são soltos e sensuais e um dos passos mais famosos é aquele na qual a mulher rodopia tentando tampar o pé do homem com a barra da saia.

O maracatu reúne dança, música e sincretismo religioso cristão junto a crenças africanas. Originou-se em Pernambuco e é embalado pelo som de instrumentos de percussão africanos. Seus movimentos místicos lembram as danças do Candomblé. Seu ritmo frenético tem origem nas cerimônias de coroação dos reis e rainhas africanos.

Toda essa musicalidade e danças ritmadas e embaladas ao som de muita percussão pedem instrumentos próprios. O afoxé é feito a partir de uma cabaça envolta de um rede de bolinhas e é tocado girando o seu cabo na direção oposta do movimento das bolinhas. É um instrumento bem característico da umbanda, mas também ritma as rodas de samba e os grupos de reggae. O agogô é formado por sinos e constituí o instrumento mais antigo do samba, mas também compõe a percussão da capoeira. Já o berimbau é um instrumento de corda que mais simboliza a capoeira. Nele, um fio de aço liga as extremidades de uma vara de madeira e uma cabaça na parte de baixo do instrumento serve para dar ressonância. As cordas geralmente são tocadas por uma pedra ou moeda.

O axé é um ritmo musical surgido nos anos 1980 na Bahia, que reúne influências de diferentes estilos como o samba-reggae, o frevo, o merengue e o forró, dentre outros ritmos afro-brasileiros. Ainda, a palavra "axé" é uma saudação religiosa do candomblé, que significa energia positiva.

Considerado um gênero originalmente brasileiro, o samba mistura de música européia com a africana^[3]. O nome remete a diversão e ao tempo livre dos escravos. Existem diversas variações deste ritmo tão brasileiro, são algumas delas: samba de roda, samba-enredo e samba de gafieira.

Uma das religiões que nasceu no Brasil, o candomblé tem como base elementos religiosos africanos e representa o culto aos orixás da cultura iorubá^[4]. Os colonizadores o consideravam feitiçaria e, para evitar perseguições, os seus adeptos costumavam associar os orixás aos santos católicos, um exemplo de sincretismo religioso.

Já a umbanda une crenças e rituais africanos e europeus, misturando, de forma sincrética, o candomblé, o catolicismo e o espiritismo kardecista. Como no candomblé, aqui também há a identificação de orixás com santos. E, sob influência do espiritismo, seus adeptos acreditam na possibilidade de contato entre vivos e mortos e na evolução espiritual após sucessivas vidas.

A culinária brasileira é muito rica e diversa e, como não poderia ser diferente recebeu muitas influências dos costumes africanos. O prato típico mais famoso do Brasil, a feijoada, é de origem africana, criada pelos escravos que adicionavam os restos de carne que os senhores não consumiam ao feijão preto. Outros pratos de origem africana são: o vatapá (creme temperado a base de farinha de rosca ou pão, servido normalmente com camarões ou peixe), o acarajé (bolinho feito de massa de feijão-fradinho, frito no óleo de dendê) e o caruru (cozido de quiabos que geralmente acompanha o acarajé ou carnes).

Não menos importantes, algumas tradições africanas ganharam tanta representatividade que hoje são celebradas em grandes festas. É o caso da festa de Iemanjá, comemorada no dia 2 de fevereiro e a festa de São Benedito, típica do Congado, que ocorre no final de semana após a Páscoa.

Se pretende ler mais artigos parecidos a Tradições culturais da África no Brasil, recomendamos que entre na nossa categoria de Cultura e Sociedade.