Linguagem de sinais é universal?
Quando pensamos em comunicação, em geral, palavras são a primeira coisa a vir à mente. Entretanto, nos esquecemos que as palavras nem sempre precisam ser oralizadas, isto é, comunicadas pela fala - elas podem ser formadas por meio de símbolos com as mãos.
Nesse sentido, as línguas de sinais são uma ferramenta utilizada pela comunidade surda para se comunicar entre si e com os não-surdos. Mas será que existe uma única língua de sinais? A linguagem brasileira de sinais (libras) pode ser entendida em todo o mundo? Esta e outras questões como se a linguagem de sinais é universal, serão respondidas neste artigo do umCOMO. Continue lendo a seguir!
Existe uma única língua de sinais?
A resposta para essa pergunta é não. Quando falamos em línguas e em pessoas, falamos de pluralidade. Sendo assim, é impossível pensar que todas as comunidades surdas de todos os países se comunicam necessariamente da mesma forma, certo?
Segundo o portal HandTalk[1], o número de línguas de sinais existentes no mundo varia entre mais de 100 e menos de 300. Importante ressaltar que todas essas línguas foram se desenvolvendo de forma autônoma, isto é, não necessariamente têm a ver com a língua falada naquele país. Contudo, os surdos que se comunicam pela língua de sinais enfrentam muitos preconceitos:
A língua de sinais, língua natural dos surdos, pois essa a criança surda adquire de forma espontânea sem que seja preciso um treinamento específico, ainda é considerada por muitos profissionais apenas como gestos simbólicos. De uma maneira geral, em nossa sociedade não existe lugar para as diferenças, sendo os surdos usuários da língua de sinais desconsiderados no processo educacional. [...] Como consequência do predomínio dessa visão oralista sobre a língua de sinais e sobre surdez, o surdo acaba não participando do processo de integração social. Embora a premissa mais forte que sustenta o oralismo seja a integração do surdo na comunidade ouvinte, ela não consegue ser alcançada na prática, pelo menos pela grande maioria de surdos. Isso acaba refletindo, principalmente, no desenvolvimento de sua linguagem, sendo então o surdo silenciado pelo ouvinte, por muitas vezes não ser compreendido.[2]
Ou seja, é preciso que a sociedade se esforce para integrar população surda e oralizada, uma vez que a cidadania é um direito de todos e, especialmente, há previsões em lei para a democratização do ensino e da aprendizagem de libras, de forma a incluir a população surda mais facilmente.
Libras é universal?
Como vimos acima, a língua brasileira de sinais (Libras) não é universal. Instituída no país pela Lei 10436/2002, que expressamente a caracteriza como "a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil".
A lei também determina diversas políticas de inclusão para a comunidade surda brasileira, que infelizmente ainda não foram abraçadas em sua totalidade, como acesso ao serviço de empresas públicas em libras, bem como escolas, hospitais, além do ensino de libras nos cursos de formação de professores.
São outras línguas de sinais de outros países:
- British Sign Language (BSL): língua de sinais britânica.
- Langue des Signes Française (LSF): língua de sinais francesa.
- American Sign Language (ASL): língua de sinais estadunidense.
- Irish Sign Language (ISL): língua de sinais irlandesa.
- Zhōngguó Shuyu (ZGS): língua de sinais chinesa.
Mais de dois milhões de brasileiros usam a língua de sinais no seu dia a dia[3]. Por que você não aproveita a oportunidade e aprende libras também? Há um curso de Língua Brasileira de Sinais - EAD pela Universidade de São Paulo disponível de forma gratuita, basta clicar aqui.
Libras em inglês
Não existe propriamente libras em inglês, porque a palavra libras corresponde à linguagem brasileira de sinais. Há tanto a linguagem de sinais britânica quanto a americana, mas neste artigo iremos nos focar na americana ou estadunidense.
Antes, entretanto, vale ressaltar que uma pessoa que se comunique pela língua britânica de sinais e outra que se comunique pela língua americana de sinais não necessariamente irão se entender, isso porque as línguas de sinais são criadas de forma apartada na língua oral, então não necessariamente irão compartilhar dos mesmos símbolos para os mesmos referenciais. Fique atento!
Sobre a língua americana de sinais, não há registros sobre quem a criou, mas especula-se que ela tenha sido baseada na língua de sinais francesa. Posteriormente, a ASL (língua de sinais americana) se desenvolveu e hoje influencia diversas línguas de sinais no mundo.
Sobre sua constituição, acadêmicos afirmam que:
além dos processos regulares de configuração de sentenças na ASL, os sinais podem ser estendidos em maneiras distintas, não de todo sistematizadas. Alguns sinais apresentam uma elaboração mimética para significar uma descrição mais precisa de algum evento ou qualidade [...][4]
Essa "elaboração mimética" diz respeito à imitação do outro, dos seus trejeitos faciais, etc.
Já o alfabeto da língua americana de sinais é diferente, confira:
Imagem: Reprodução/newsweek.com
Gostou? Nosso artigo sobre qual a diferença entre língua e linguagem também pode estar no seu radar.
Linguagem de sinais - palavras
A comunidade surda é muito receptiva aos oralizados que falam libras. Confira no vídeo abaixo um vídeo com palavras na linguagem de sinais:
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- BERTGLIA, Rosi. "A Língua de Sinais é Universal?". HandTalk. Disponível em: <https://www.handtalk.me/br/blog/lingua-de-sinais-universal/#:~:text=Existem%20entre%20138%20e%20300,com%20o%20passar%20do%20tempo.>. Publicado em 20 de março de 2021. Acesso em 8 de agosto de 2022.
- DIZEU, Liliane Correia Toscano de Brito; CAPORALI, Sueli Aparecida. A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito. Educação & Sociedade, v. 26, p. 583-597, 2005.
- AGÊNCIA BRASIL. Programa Caminhos da Reportagem aborda o Brasil que usa Libras. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2021-09/programa-caminhos-da-reportagem-aborda-o-brasil-que-usa-libras#:~:text=A%20L%C3%ADngua%20Brasileira%20de%20Sinais,usam%20a%20l%C3%ADngua%20de%20sinais.>. Publicado em 26 de setembro de 2021. Acesso em 8 de agosto de 2022.
- FRYDRYCH, Laura Amaral Kümmel. Rediscutindo as noções de arbitrariedade e iconicidade: implicações para o estatuto linguístico das línguas de sinais. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, v. 10, n. 19, p. 281-294, 2012.