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Respeito à mulher: ações para desenvolvê-lo

 
Marina Corrêa
Por Marina Corrêa, Editora. 10 março 2023
Respeito à mulher: ações para desenvolvê-lo

Quando chega o mês de março, muito se fala sobre respeitar as mulheres, mas quanto desse discurso permanece ao longo do ano? O que é feito dentro da sociedade, dos ambientes de trabalho, das famílias e das rodas de amigos para, de fato, respeitar uma mulher?

Mais do que o debate, é preciso ação. E quando, nós mulheres, falamos de agir estamos longe de querer dizer flor, chocolate e promoção de 15% em produtos de "etiqueta rosa". Se você é mulher ou homem e tem real interesse em saber ações de respeito à mulher que são realmente relevantes, continue com a gente neste novo artigo do umCOMO.

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Índice

  1. Respeito às mulheres no ambiente de trabalho
  2. Respeito às mulheres no ambiente familiar
  3. Respeito às mulheres na roda de amigos
  4. Respeite as mulheres

Respeito às mulheres no ambiente de trabalho

É impossível falar de respeito às mulheres sem pensar nos ambientes de trabalho. Mas, por mais que eu esteja tentada a começar esse parágrafo com dados numéricos sobre o quanto as mulheres ainda ganham menos que os homens e quantos anos serão necessários para acabar com essa disparidade, eu vou preferir começar com outro assunto e vou ser bem clara:

Deixem as mulheres falarem

Já ouviu falar no termo mansplaining? Talvez você não encontre familiaridade com ele de cara, mas é bem provável que encontre com o que ele representa. Mansplaining nada mais é do que aquela mania que os homens têm de querer explicar o óbvio para as mulheres, pelo simples fato de eles serem... homens e assumirem que a mulher não sabe do que eles estão falando, ainda que, em muitos casos, a vivência e o conhecimento da mulher sobre o assunto debatido seja maior que a dele.

E pelo que você pode substituir o mansplaining? É simples: esteja aberto a ouvir quando uma mulher começar a explicar um assunto ou uma vivência e não a interrompa enquanto ela estiver falando. E, por falar em interrupção por parte dos homens quando uma mulher está falando, a frequência é tão alta que nós temos um termo para isso também: chama-se manterrupting e esse é fácil de evitar. Basta só: não interromper.

E, apesar de eu ter decidido trazer esses dois termos ao falar de respeito à mulher no ambiente de trabalho, vale ressaltar que eles acontecem em todos os lugares: em casa, em Universidades, até em mesas de bar. Portanto, vamos evitar o mansplaning e o manterrupting em qualquer contexto.

Paguem o mesmo para mulheres e homens

Feita a nossa introdução, agora, sim, começamos com os nossos dados numéricos. Em um estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e divulgado pela ONU em setembro de 2022, foi constatado que, globalmente, as mulheres ganham em média 20% menos que os homens.[1]

Mas, nós sabemos que, ao colocar uma lupa, essa realidade pode ser ainda pior. Por exemplo, neste ano, o G1 divulgou que mulheres com maior nível de escolaridade e que desempenham a mesma função ganham 37% menos que homens no Rio de Grande do Sul.[2]

Por que isso acontece? Nós precisaríamos de muitas e muitas aulas de história para explicar tim-tim por tim-tim porque, ainda hoje, mulheres ganham tão menos que homens. Mas, podemos resumir que quando nós mulheres finalmente entramos no mercado de trabalho no século 19, o fizemos porque a nossa mão de obra era mais barata que a dos homens. Mas, quem nos colocou nessas condições, senão eles?

Com o início da Revolução Industrial, nós fomos ocupando espaços nas fábricas, a princípio, reproduzindo as tarefas do trabalho doméstico e em condições exploratórias. E, posteriormente, fazendo as mesmas funções que os homens, mas mantendo os salários mais baixos.

E como nós podemos substituir os salários inferiores? A legislação é um caminho, mas, ainda que ela exista, com muita frequência não é aplicada. O artigo 461 da CLT é claro: empresas devem pagar o mesmo salário indepentende do "sexo" do trabalhador se as funções forem idênticas.

Mais do que leis, a conscientização é o caminho. Quem lá atrás nos colocou nessa posição de salários inferiores por sermos mulheres é também quem pode - e deve - começar a mudar o curso dessas condições.

E, claro, não insentando as mulheres, que também contratam mulheres, de lembrarem que isso vale para todos e todas. Se você é mulher, contrate mulheres e pague a elas um salário justo.

Permitam que as mulheres cheguem a posições de liderança

Ganhar o mesmo que homens é uma das coisas que precisamos pensar quando falamos em respeito às mulheres dentro do ambiente laboral. Igualmente importante é criar oportunidades para que nós possamos ascender em nossas carreiras e não deixar que as posições mais altas sejam ocupadas sempre por homens.

Contratem mais mulheres

De nada adiantam os projetos de equiparação salarial se não existem oportunidades para as mulheres. Se você tem nas mãos o poder de contratar pessoas para trabalhar, contrate mulheres. Mulheres cis, mulheres trans, mulheres que são mães e não nos esqueçamos daquelas que podem vir a ser mães. Ou você vai deixar de contratar alguém por conta de uma possível licença-maternidade?

Respeitem as leis

E por falar em deixar de contratar alguém por causa de licença-maternidade, não vamos esquecer das leis. Não mande embora uma mulher que acaba de voltar de licença-maternidade, não ignore as leis que protegem a equiparação salarial e, por mais que me pareça absurdo ter que dizer, não assedie mulheres em ambientes laborais e nem em nenhum outro lugar. Assédio é crime!

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Respeito às mulheres no ambiente familiar

Se você é homem, que divide uma casa com uma mulher, e está lendo este artigo, eu gostaria que você me contasse nos comentários, como você faria se morasse sozinho ou dividisse a casa com outro homem? Você lavaria sua própria roupa? Cozinharia sua própria comida? Limparia a casa, tiraria o lixo, faria a cama? Como está a sua participação nestas tarefas agora?

Eu não estou dizendo que você não faça nada, mas se você não faz, não acho que seja a hora de você tomar uma posição defensiva, mas, sim, uma posição de reflexão que, em seguida, deveria converter-se em uma mudança de comportamento.

E para que o assunto não gire apenas em torno dos homens, queria convidar também as mulheres jovens que estão lendo este texto a pensarem. Se você ainda mora com a sua mãe, você divide as tarefas da casa com ela? Uma das frases que eu li e que mais marcou os meus pensamentos com relação ao feminismo e ao respeito às mulheres partindo de outras mulheres foi: "O seu feminismo começa com a sua mãe?"

Nesta seção do texto não vou enumerar maneiras de respeitar mulheres no ambiente familiar, porque como todos somos adultos funcionais, sabemos o que é preciso fazer dentro de uma casa para que ela funcione bem: lavar a louça, a roupa, arrumar a cama, cozinhar, limpar, fazer reparos, guardar roupas e objetos e falar de maneira respeitosa e igualitária com todas as pessoas que vivem dentro dela.

O cuidado com os filhos e o respeito às mulheres

Mais do que falar sobre tarefas domésticas, é preciso também falar sobre os cuidados com os filhos. No passado, o cuidado deles era responsabilidade das mulheres, que ficavam em casa para dedicar-se às tarefas do lar e às crianças. Porém, faz muito tempo que entramos no mercado de trabalho e essa dinâmica parece não ter mudado.

Acontece que, assim como as tarefas de casa, em que todos moram e por isso todos precisamos dedicar-nos a elas, o cuidado com os filhos também é de responsabilidade igual de ambos os genitores. E nunca sob o pretexto de ajuda, porque o cuidado com os filhos trata-se de uma responsabilidade conjunta.

Como ensinar seus filhos a respeitar as mulheres

Nós não podemos mudar um passado patriarcal e machista, mas podemos construir um futuro de respeito às mulheres. Construção esta feita por meio da educação. Debata, ensine, dê exemplos, seja um exemplo.

Mostre ao seu filho que o gênero não faz com que ele esteja acima de ninguém, que as tarefas que precisamos cumprir para viver bem é de corresponsabilidade de todos, que o respeito começa em casa, mas se estende à rua. Afinal, não queremos homens que respeitem as mulheres, desde que essa mulher seja a mãe ou irmã.

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Respeito às mulheres na roda de amigos

Em algum momento precisaríamos chegar àquela famosa frase: nem todo homem, mas sempre um homem. E será que em maior ou menor grau, nem todo homem mesmo? Sabe o que é que é? Não adianta dizer que respeita todas as mulheres, mas rir da piada machista do seu amigo.

Sabe como é, o machista é ele, você "só" riu.

Nem todo homem, porque "eu nunca enviei nudes que recebi ou dei detalhes da noite que eu vivi com uma mina", mas "escuto atentamente quando o fazem, sem nunca chamar atenção do cara que faz". Sabe como é "a gente é brother".

Nem todo homem porque "eu nunca falei grosseiramente com a minha namorada ou esposa em público ou em particular" mas eu "sempre me calo quando é o meu amigo que faz", afinal "a mulher é 'dele' e eu não posso me meter".

Não queremos que o debate do respeito às mulheres seja sempre nossa responsabilidade. Queremos que ele seja uma corresponsabilidade, de homens e mulheres. Seguiremos lutando por nossos espaços, nossos salários e direitos iguais, mas não custa nada você se posicionar, debater, se conscientizar e ajudar a conscientizar os outros.

Que você seja o único cara que não esboça um sorriso na mesa do bar quando seu amigo faz aquela piada machista. Que você seja o único do grupo que tenha coragem de dizer para ele o quão absurdo é ele falar de maneira grosseira com a pessoa com quem está com ele. Hoje você pode ser o único, amanhã é bem provável que não.

E, caso você seja esse único, eu também preciso te dizer: este ato não é digno de prêmio, você apenas estrá sendo um ser humano normal, fazendo coisas... normais.

Respeito à mulher: ações para desenvolvê-lo - Respeito às mulheres na roda de amigos

Respeite as mulheres

Se for preciso deixar mais gráfico, a gente pode listar o que não fazer quando estamos falando em respeito às mulheres. E, antes de mais nada, que fique claro que alguns itens da lista não se tratam apenas de respeitar ou não, tratam-se de crimes:

  • Bater em uma mulher;
  • Gritar com uma mulher;
  • Discriminar uma mulher pela cor de sua pele e, aqui, vale reforçar que racismo é crime;
  • Expor fotos ou qualquer conteúdo íntimo de uma mulher na internet (Lei Carolina Dieckmann);
  • Sobrecarregar uma mulher com tarefas domésticas;
  • Assediar uma mulher - mesmo aquilo que na sua cabeça é inofensivo: como assobios e comentários não requisitados ("Fiu, fiu" não é elogio), até encostar em uma mulher que não te deu permissão;
  • Retirar o preservativo durante uma relação sexual sem o consetimento da mulher;
  • Praticar ato sexual com uma mulher que disse não ou está inconsciente;
  • Pagar salários mais baixos por ser mulher;
  • Não contratar uma mulher por possíveis licenças-maternidade ou qualquer outra razão não plausível;
  • Driblar leis que preservam direitos das mulheres;
  • Interromper uma mulher;
  • Achar-se superior por ser homem;
  • Abusar de uma posição de poder para submeter uma mulher a fazer algo que ela não quer;
  • Não respeitar as escolhas de uma mulher, seja querer ter filhos ou não, ou qualquer outro posicionamento que ela tome em relação à própria vida.

A lista poderia ser muito mais longa e eu convido você, mulher, a complementá-la nos comentários. Se quiser continuar lendo sobre 8 de março e sobre países liderados por mulheres, leia os nossos outros artigos.

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Referências
  1. NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Relatório da OIT aponta que mulheres recebem 20% menos do que homens. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/199919-relat%C3%B3rio-da-oit-aponta-que-mulheres-recebem-20-menos-do-que-homens#:~:text=Relat%C3%B3rio%20da%20OIT%20aponta%20que%20mulheres%20recebem%2020%25%20menos%20do%20que%20homens,-19%20setembro%202022&text=Um%20novo%20estudo%20da%20Organiza%C3%A7%C3%A3o,m%C3%A9dia%20do%20que%20os%20homens.> Acesso em: 09 de março de 2023.
  2. G1. Mesmo com nível de escolaridade mais avançado, mulheres ganhem em média 37% menos do que homens no RS, aponta estudo. Disponível em: <https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2023/03/06/mesmo-com-nivel-de-escolaridade-mais-avancado-mulheres-ganham-em-media-37percent-menos-que-homens-no-rs-aponta-estudo.ghtml> Acesso em: 09 de março de 2023.
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