Feminismo abolicionista: o que é e autoras
O feminismo, como qualquer outra ideologia, ao longo dos anos experimentou diferentes fases, ondas e correntes lideradas por diferentes autoras, a tal ponto que, hoje, encontramos no próprio feminismo várias correntes ideológicas com um objetivo comum: abordar o papel da mulher, seus direitos e liberdades.
Feminismo radical, feminismo igualitário, ecofeminismo, feminismo liberal... Os tipos de feminismo são múltiplos e variados. No umCOMO queremos aprofundar mais sobre uma corrente em particular. Por isso, vamos explicar a você feminismo abolicionista: o que é e autoras.
O que é o feminismo abolicionista e sua origem
O feminismo abolicionista, em sua origem, é definido como a corrente ideológica do feminismo que quer acabar com qualquer elemento estabelecido pelo patriarcado e que promova a difamação das mulheres, como a prostituição, a pornografia ou a maternidade de aluguel. Nesse sentido, o feminismo abolicionista luta contra a exploração comercial e sexual do corpo feminino.
Como qualquer corrente, o feminismo abolicionista evoluiu ao longo de sua jornada e foi forçado a acrescentar outros termos que devem ser suprimidos, como a abolição do gênero. Por meio do abolicionismo, as feministas buscam reformular posições patriarcais tradicionais, e é usado como ferramenta para analisar práticas sociais e culturais que violam os direitos e liberdades das mulheres.
Por meio desse movimento, as feministas se opõem a qualquer controle legal ou estatal da prostituição ou outras formas de exploração organizada do corpo feminino, ou seja, o próprio exercício da prostituição é descriminalizado, mas faz com que a responsabilidade recaia sobre qualquer comportamento que envolva essa prática, colocando o foco e culpa da demanda no cliente e na procura.
Origem do feminismo abolicionista
Falar de abolicionismo é falar do último terço do século 19, quando movimentos voltados para a erradicação da escravidão começaram a surgir em vários países. Esse tipo de ativismo foi representado por muitas mulheres, como Carolina Coronado, que presidiu a Sociedade Abolicionista das Damas na Espanha. Por meio dessa sociedade, o abolicionismo foi ganhando destaque entre as mulheres e foi erguido em defesa da escravidão das mulheres.
Graças à luta ativista, essa nova ordem liberal se espalhou por todos os países como uma onda feminista, tanto na Europa quanto na América. No entanto, a partir da década de 1970 até hoje, o feminismo abolicionista vem ganhando cada vez mais destaque entre as feministas, sendo hoje um pilar básico para a luta feminista. Tanto que muitas autoras e lideranças do movimento consideram que o feminismo deve ser 100% abolicionista.
O que o abolicionismo propõe
Embora o feminismo abolicionista tenha lutado inicialmente pela abolição da prostituição e da pornografia, duas ferramentas que violam os direitos das mulheres e pelas quais a violência é exercida sobre elas, ao longo dos anos o movimento incorporou novos pedidos de repressão, nascidos com o mundo de hoje, como barrigas de aluguel, que são uma forma de exploração sexual e reprodutiva das mulheres.
Abolição de gênero
O que significa ser abolicionista de gênero? Na atualidade, falar de abolição é também falar de abolicionismo de gênero, o que significa acabar com a ideologia das identidades, ou seja, deixar de dar valor diferencial a homens e mulheres para acabar com os papéis sexuais que dela decorrem, uma vez que representam um dos principais suportes do sistema patriarcal.
Por meio do abolicionismo pretende-se, então, romper com os estereótipos e libertar ambos os sexos dos padrões de gênero, visando que as relações sejam livres e iguais, sem distinção. Isso tem muito a ver com a masculinidade tóxica e o subsequente surgimento de novas masculinidades, por exemplo.
Direitos e liberdades iguais
O feminismo abolicionista, por meio de suas autoras, nos leva a criticar a estrutura social que nos foi imposta desde a pré-história e sua hierarquia, na qual os homens exercem a autoridade e as mulheres estão sujeitas a ela. E embora se entenda que o sexo é uma realidade biológica, a partir do abolicionismo critica-se que o gênero também seja, pois faz parte de uma construção social imposta a partir da realidade biológica ou do sexo.
Através das ideias de identidade de gênero, o patriarcado tem se agarrado ao seu poder e colocado obstáculos a uma igualdade que não deve ser condicionada por sexo ou gênero, mas deve ser baseada em direitos e liberdades iguais.
Autoras do feminismo abolicionista
Que tipo de sociedade estamos procurando? Quais são os verdadeiros objetivos do feminismo? A partir da corrente feminista abolicionista, muitas autoras têm refletido sobre essas e outras questões que nos fazem pensar sobre o papel da mulher na sociedade e como ela tem sido tratada ao longo dos anos.
Para o feminismo abolicionista, não se opor à prostituição, à violência ou à submissão patriarcal é o mesmo que permitir que esse horror continue a existir. Por esta razão, as ativistas feministas abolicionistas estão cada vez mais levantando suas vozes para ampliar as bases de um feminismo que, para alguns, fica aquém.
Angela Davis, Beth Richie e Gina Dent são algumas das autoras que refletem sobre abolição e feminismo, mas não são as únicas, pois o abolicionismo feminista está se tornando um slogan mais massivo. Essas três autoras, juntamente com Erica Meiners, falam no livro "Abolition. Feminism. Now" sobre como o feminismo está na raiz do abolicionismo como prática e como estratégia política, já que o feminismo abolicionista luta pela eliminação da violência de gênero, em seu sentido mais amplo.
Autoras feministas clássicas
Falar sobre abolição e feminismo é impossível sem se referir às vozes mais importantes do feminismo que, por meio de suas obras de referência, têm ajudado a construir os pilares básicos do feminismo atual. Algumas delas são:
- Mary Wollstonecraft: nascida na Inglaterra no século 18, foi escritora e filósofa. Ela se destacou como uma das primeiras mulheres que podiam viver de forma independente por seu próprio mérito. Sua obra "Reivindicação dos direitos das mulheres" é um texto em que ela levanta as diferenças de gênero não por sua realidade biológica, mas por educação e construção social, que é a base dos pilares do abolicionismo de gênero.
- Olympe de Gouges: a escritora, planfetista e filósofa política francesa lutou ao lado das abolicionistas feministas pela erradicação de leis contrárias à moralidade, como a escravidão. Ela foi decapitada após publicar sua obra "Declaração dos direitos da mulher e cidadã".
- Virginia Wolf: ela é uma das figuras inescapáveis do feminismo. Seu ensaio "A room of one's own" foi considerado um dos mais importantes manifestos do feminismo, pois fala sobre como as mulheres participam de uma sociedade projetada por e para homens. Wolf reflete sobre a posição das mulheres e o que elas precisam para competir de igual para igual.
- Celia Amorós: a espanhola é uma das vozes contemporâneas do feminismo. A autora conceituou os problemas do feminismo atual em obras como "Por uma crítica da razão patriarcal".
- María Marcela Lagarde y de los Ríos: nascida no México, Lagarde faz parte da Rede de Pesquisadoras pela Vida e Liberdade das Mulheres. Através de suas obras, ela estudou a relação das mulheres com o poder, sexualidade, maternidade ou cultura, entre outros temas. Vale destacar sua obra "Os cativeiros das mulheres: mães-esposas, freiras, putas, prisioneiras e loucas".
Esperamos que você tenha amado este artigo sobre o feminismo abolicionista. Se quiser saber mais sobre outras correntes feministas, veja nosso post Tipos de feminismo.
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