O que é Coltan

A história por trás, não do Coltan, por hora, mas deste artigo, trata-se de uma pesquisa descompromissada. Começou quando eu quis saber mais sobre a morte do leão Cecil, por um dentista com fetiches por tirar fotos com animais - geralmente predadores - que ele mesmo mata, e quis saber onde era Zimbabwe. É engraçado mas nunca reparei como sou pobre de conhecimentos culturais sobre a África; históricos e geográficos também. Quando estava olhando o Google Maps, de frente à todas aquelas fronteiras quadradas e ridiculamente mal separadas pelos colonizadores, lembrei que não me lembro de muitos artistas, filósofos, revolucionários e outros possíveis nomes históricos que vivem ou viveram neste enorme continente. Mas sempre lembro de tragédias ao pensar em África, e ainda me dou ao direito hipócrita de sentir raiva quando encontro com estrangeiros e alguns deles dizem que achavam que no Brasil só existe floresta, bunda e Pelé.

Mas, voltando ao assunto principal do texto, o Coltan, descobri que este raro mineral cujo 80% das suas reservas estão na República Democrática do Congo, circula, atualmente, no bolso de quase todas as pessoas. Para facilitar a leitura, utilizarei RDC para tratar deste enorme país. E, como sabemos, ou ao menos quem já assistiu aquele filme com o Leonardo Di Caprio "Diamante de Sangue", existe muita, mas muita exploração de africanos para obter riquezas, afinal, a África é um continente riquíssimo em matéria prima mas pobríssimo em IDH. E tem gente que acha que a escravatura acabou.

Imagem: google maps

A RDC, antigamente conhecida como Zaire, e mais antigamente ainda conhecida como Congo, desde colonizada, pelo o que sei, tem histórico de guerrilhas. Foi um país de colonização belga, e que por confusão, acabou ficando com o mesmo nome do país vizinho, hoje chamado apenas de Congo, que havia sido colonizado por Franceses. Assim que o a RDC (Chamada apenas de Congo na época) conseguiu a sua independência, após muita luta, mudou o seu nome para RDC, justamente para se diferir do país ao lado.

Após alguns vai-e-vens da história, RDC, em 1965, acabou por cair nas mãos de um ditador, líder de um movimento de extrema-direita chamado Mobutu Joseph Désiré. Mobutu tentou de tudo para capitalizar o país, de todas as formas, e como o seu governo também era extremamente nacionalista, resolveu alterar todos os nomes e expulsar os estrangeiros com sobrenomes não-africanos. Foi nesta época que a RDC adquiriu o nome Zaire. Muitas cidades tiveram os seus nomes alterados e, devo mencionar, que até mesmo o ditador mudou o próprio nome para Mobutu Sese Seko Koko Ngbendu wa za Banga, que, traduzindo no português claro significa "o todo-poderoso guerreiro que, por sua resistência e inabalável vontade de vencer, vai de conquista em conquista deixando fogo à sua passagem". E tem gente que reclama por ter pinto no sobre-nome. Foi nesta época que a RDC mergulhou de vez na corrupção, e desde aí, carrega até hoje uma história de crime, violência e exploração. Em 1994 mais de um milhão de ruandeses, da Ruanda, entram no país, fugindo do genocídio que ocorria em sua terra natal. A chegada destas pessoas desestabilizou completamente a região, uma vez que o povo do Zaire era inimigo milenar do povo de Ruanda, o que foi o fator decisivo a levar com que o povo se revoltasse contra o seu líder de nome extenso, que permitiu a entrada dos ruandeses. Logo a seguir, o país foi novamente decepcionado por seu líder, que entrou com medidas autoritárias e anti-populares, mas adotando novamente o nome de RDC. Algumas destas medidas provocaram um estado de guerra entre os países vizinhos, e entre os próprios povos da RDC, basicamente, o movimento rebelde assume o poder e faz com que um novo movimento rebelde surja, contra o primeiro que agora está no poder. E por aí vai. Com esta digressão o que eu quero é que o leitor entenda 80% das reservas de Coltan, mineral mais valioso do que o Diamante, encontra-se neste país. Além, é claro, de inúmeras reservas de ouro e diamantes, que também se encontram neste país.

Na imagem: Motubu.

A história é longa, estou tentando resumir sem perder a essência. O que se passa na RDC é que todo este histórico de guerras, revoltas e autoritarismo já mataram cerca de 6 milhões de pessoas, segundo dados da ONU. A guerra que dura nesta região, entre países vizinhos, militares e rebeldes da RDC tem quase 20 anos de duração. O país é rico, para se ter uma noção, é o maior e mais rico da Africa em matérias naturais, possui a segunda maior floresta equatorial e a segunda maior bio-diversidade do mundo, atrás do Brasil. E o povo é miserável.

Como é possível tanta riqueza num só país, sendo ele o campo de batalha da gerra sangrenta que, números de morte e destruição, só perde para a Segunda Guerra Mundial.

A missão mais cara e trabalhosa da Organização das Nações Unidas (ONU) é a RDC. A rotina da ajuda humanitária que este país recebe consiste em tratar doenças como a malária, cólera, desnutrição, infecções, sarampo, e ainda assim não consegue salvar o povo do extermínio em massa. Na rotina do povo da RDC estão as chacinas de homens, sequestros e estupros de mulheres.

Para se extrair o Coltan usa-se mão de obra praticamente escrava. Com tanta gente pobre, passando fome e necessitando de emprego, não é difícil achar mão de obra. Um minerador ganha o equivalente a dez dólares para cada 200 mil que o grupo rebelde fatura com este mineral, e para este há 250 milhões que as companhias faturam; o minerador encontra-se na última base da pirâmide de exploração de Coltan, a seguir, vem o rebelde/militar do exército Ruandês, apoiados pelos grupos rebeldes do Congo, que oprimem e fazem com que o minerador trabalhe, lucrando em cima; pouco mais acima, exitem as empresas que, sem o exército ruandês e o estado de guerra, não poderiam lucrar tanto - à la guerre comme à la guerre; e acima destes, estão os consumidores de Coltan.

O problema é que Coltan vale mais que diamante e é muito mais utilizado:

Segundo a declaração de Adolphe Onusumba, presidente da RDC: "Com a venda de diamantes ganhávamos cerca de 200.000 dólares ao mês. Com o coltan chegamos a ganhar mais de um milhão de dólares por mês.". O problema maior é que quem sustenta este mercado somos nós - e eu não posso negar se tanto escuto que só existe mercado quando há demanda. No documentário "Blood In Mobile" o dinamarquês Frank Poulsen tenta descobrir se o seu celular contém minerais Coltan, Frank é também o diretor do documentário, e conclui que não existe celulares no mercado que não contenham este mineral, além de muitos outros produtos como notebooks, tablets, videogames, televisões, etc.

Por trás do consumismo capitalista e a corrida tecnológica existe sangue e morte, num país cujo território se tornou, por causa da ganância, um campo lamacento onde para encontrar o ouro azul é preciso cavar sobre terra, suor, cadáver e fezes.

Imagem: cienciaxplora.com

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